Embora sejam considerados dois excelentes trabalhos, A Vida da Gente (2012) e Sete Vidas (2017) carecem do mesmo problema: uma gama de personagens exageradamente elitista e cujas trajetórias se desenrolam a partir de lugares muito marcados. A ausência de atores negros no elenco e a inexistência do diálogo com questões sociais sempre foram pontos a se considerar nos trabalhos da autora.
Agora, mais madura e após um longo atraso causado pela pandemia de Covid-19, a novelista retorna ao ar inspirada em um tema espinhoso: a inserção social de jovens que cresceram em abrigos para menores. A ideia central da trama veio após a escritora assistir a um documento da GloboNews sobre o tema. Sensibilizada, ela se questionou: afinal, o que podem esses jovens que precisam enfrentar em desvantagem um mundo marcado pela competição? Ao perceber na maioria daqueles jovens a esperança preservada de estudar e ter um futuro, uma pergunta me veio de imediato: no Brasil de hoje, com apenas 14% dos adultos com curso superior, cerca de 13 milhões de desempregados, e um quarto da população vivendo em situação de pobreza – serão seus sonhos realizáveis?”, declara.
Na trama, Cauã Reymond interpreta os gêmeos Christian e Christofer, separados ainda na infância: um cresce como integrante de um abrigo, o outro tem todas as oportunidades para construir uma trajetória vitoriosa ao ser adotado por uma família de classe média alta. No destino dos dois, um dilema moral:
‘Se fosse possível trocar sua vida, carente e desvalida, pela de outra pessoa, rica e privilegiada – o que você faria? Se para você as portas estivessem todas fechadas e subitamente uma se abrisse, sob a única condição de deixar sua identidade para trás – você iria adiante?’”
Assim como em seus trabalhos anteriores, Um Lugar ao Sol tem como protagonismo as relações humanas que se criam a partir desse momento definidor. Como fingir ser outra pessoa? Como lidar com as mudanças de quem se imaginava conhecer? Como ocupar um lugar que não é seu? Questões aparentemente banais estarão retratadas na trajetória de Renato a partir do texto sempre preciso da autora. Com seu novo trabalho, Lícia Manzo tem a oportunidade de se reinventar e mostrar que não quer ficar marcada com uma autora que evita um diálogo ao pé do ouvido com a realidade brasileira - tentativa que começa a se definir logo na escalação de um elenco mais plural e representativo. Temas como gordofobia, desigualdade social e racial, abuso psicológico, gravidez na adolescência e o lugar da mulher na sociedade serão debatidos a partir de uma gama de personagens com diversidade inédita nos trabalhos da autora.
Com direção artística de Maurício Farias, a promessa é que Um Lugar ao Sol consiga unir o tradicional novelão (quem não está esperando as idas e vindas do triângulo amoroso que será formado pelo protagonista e as encantadoras Bárbara (Alinne Moraes) e Lara (Andréia Horta) está mentindo) a temas cotidianos necessários e urgentes. Autora referência da nova geração, Lícia Manzo tem no texto a sua grande qualidade e, no elenco brilhante, seu grande parceiro. Veremos.
fonte contigo.
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