Em meio ao amplo debate da população brasileira sobre a apologia à pedofilia nas “mostras de arte” e com a hashtag #Caetanopedofilo se espalhando pelas redes sociais, a rede Globo decidiu abordar o problema em duas frentes.
A primeira é na ficção, na novela O Outro Lado do Paraíso, onde uma menina é abusada pelo padrasto e carrega o trauma por toda a vida. Já na área do jornalismo, deu espaço para o assunto em programa especial da GloboNews Edição das 10h do dia 1/11. Na reportagem da emissora, a “pedofilia é uma doença crônica, que não tem cura. Os médicos fazem uma comparação com a diabetes e o alcoolismo, que exigem cuidado redobrado e tratamento por muito tempo, ou talvez por toda a vida.”
Sem ter a identidade revelada, um pedófilo foi entrevistado. A maneira como a emissora optou por enfocar a perversão sexual surpreende, pois o mostrou como uma vítima. “Um homem que, por medo de ser preso por pedofilia, passou a fazer tratamento para se livrar da doença. Ele foi denunciado por uma vítima e já está há dois anos tomando medicação e fazendo terapia de grupo para evitar recaídas”, afirma a matéria, que também foi veiculada no portal G1.
Em sua defesa, o homem alega que é como um vício, mas não acredita que a prisão seja a solução. “Eu acho que essa doença, ela tem que ser tratada assim como você trata sobre as drogas, sobre a bebida, e tudo isso aí. É complicado. Mas tem tratamento também. Se você for prender todos aqueles que são viciados em drogas, pode ver que a maioria sai de lá pior do que entrou”, insiste. O entrevistado conta que fez um tratamento, mas não consegue explicar se está “curado”. Conforme admite a emissora, “é muito difícil evitar recaídas”. Causa estranheza a maneira como a Globo apresenta um assunto tão delicado.
O ambulatório de transtornos da sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo, atende toda semana 50 pacientes ‘diagnosticados’ com pedofilia. Segundo Carlos Eduardo Alves Teixeira, psicólogo do ambulatório assegura que é uma “doença”, mas admite que não é possível evitar a questão legal.Danilo Antonio Balteri, médico psiquiatra e coordenador do ambulatório, revela: “Nós não temos obrigatoriedade de denunciar o que aconteceu antes do tratamento. Mas, iniciando o tratamento, nós temos sim a necessidade, muitas vezes, de denunciar, caso a ofensa sexual ocorra ou mesmo esteja na iminência de acontecer”.
Doença ou crime?
No Brasil há diferentes interpretações sobre o que vem a ser a pedofilia. Segundo a Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde, item F65.4, trata-se de uma “preferência sexual por crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes ou no início da puberdade”.
Ao mesmo tempo, o Código Penal estabelece que é crime a relação sexual ou ato libidinoso (todo ato de satisfação do desejo, ou apetite sexual da pessoa) praticado por adulto com criança ou adolescente menor de 14 anos. A pena prevista é de um a seis anos de prisão, além de multa. A artigo 241-B do ECA é mais abrangente, considerado crime também o ato de “adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente”.
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