Um dos projetos mais ansiados da franquia Fábrica de Sueños desde seu anúncio, a nova versão de Rubi se encerrou na última quinta (27) nos Estados Unidos, deixando, além de vários recordes de audiência para o canal Univisión, o mérito de ter conseguido acrescentar algo mais estado ao argumento criado há quase 60 anos pela escritora Yolanda Vargas Dulché.
Em alta na Televisa depois de ter assinado a popularíssima e multipremiada Amar a Muerte (2019), Leonardo Padrón mostrou-se à altura de transpor para a modernidade a história de Yolanda. O autor não teve receio em oferecer uma visão particular de Rubi, fugindo do óbvio e permitindo-se a liberdade criativa necessária para levar a ‘descarada’ caminhos novos e impensados. Padrón também foi especialmente sábio na hora de conduzir os personagens secundários, em subtramas enxutas, mas pontuais, que ajudaram a solidificar o enredo central. A qualidade de produção também se mostrou superior à da versão de 2004, protagonizada pela icônica Bárbara Mori e popularizada no Brasil por suas diversas exibições pelo SBT. Não somente a cenografia – mais realista -, mas sobretudo as externas em belíssimas locações da Espanha conferiram um charme extra e uma credibilidade maior à produção. O grande “porém” residiu, no entanto, nos recursos de envelhecimento dos atores – Camila Sodi, por exemplo, ganhou um certo ar de Helena Bonham Carter, em Alice no País das Maravilhas (2010), na fase madura de sua personagem. Faltou também uma mão mais segura para executar as cenas de ação que marcam o ato final, quando a novela se transforma num intenso – e delicioso – thriller.
O elenco também se mostrou bastante acertado. O que parecia impossível de se conseguir foi alcançando, e Sodi, contrariando a expectativas gerias, convenceu inteiramente como Rubi. Mérito não só da equipe de caracterização – que evidenciou ao máximo os atributos físicos da sobrinha de Thalía, através de figurinos para lá de chamativos – como também da própria atriz, que se entregou completamente às loucuras de Rubi e fez dela seu melhor trabalho na televisão até agora. É bem verdade que a atuação de Camila destoou e muito da que apresentou Bárbara Mori a seu tempo. A nova Rubi era uma mulher atirada, vulgar, até exagerada em sua sedução, diferente da composição de Mori, marcada mais pelo cinismo, o sangue frio e seus ares de grandeza. Por um lado, tirou um pouco do charme da personagem, mas por outro encaixou-se perfeitamente na proposta deste remake, onde o proceder nada sutil de Rubi reforçava que, por mais bela e bem sucedida que pudesse haver se tornado, não havia nascido exatamente em berço de ouro. Kimberly dos Ramos também se sobressaiu como Maribel. Embora seu perfil físico a talhasse mais para Rubi do que a própria Sodi, a atriz venezuelana convenceu nas inseguranças e nos complexos de sua personagem, traumatizada pela amputação de uma perna. O mesmo não se pode dizer de José Ron. O onipresente ator não fez feio, porém pouco fugiu do mais do mesmo na pele de Alejandro, um mocinho linear como muitos de seu currículo. Aplausos ainda Mayrín Villanueva, cujo bom desempenho artístico contornou até mesmo alguns probleminhas óbvios – conservadíssima aos quase 50 anos, a atriz parecia mais jovem que suas próprias filhas na ficção, Camila Sodi e Tania Lizardo (Cristina).
Mas não teve para para ninguém: a grande revelação de Rubi, junto com a protagonista, atende pelo nome Rodrigo Guirao. Conterrâneo de Sebastián Rulli, intérprete original do personagem, o argentino provou ser muito mais que um rostinho bonito ao entregar uma construção sutil e inteligente da personalidade psicótica Heitor, evitando cacoetes a que muitos ‘grandes astros’ de sua geração certamente não teriam resistido.
O fato é que, entre vários acertos e alguns tropeços, esta revisitação pós-moderna de Rubi foi um acréscimo pertinente e coeso à vasta galeria da personagem de Vargas Dulché, que nasceu nas famosas historietas em quadrinho e ganhou as mais variadas roupagens no cinema e na televisão. Mais uma prova da atemporalidade da femme fatale mexicana e de seu inesgotável poder de sedução, dentro e além dos limites da ficção.
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